quarta-feira, 21 de abril de 2010

A Bíblia é necessária para saber que Deus existe?


Que dizer de pessoas que não lêem a Bíblia? Elas podem obter algum conhecimento de Deus? Elas podem conhecer certas coisas a respeito de suas leis? Sim, é possível algum conhecimento de Deus sem a Bíblia, mesmo que não seja um conhecimento seguro.

A) A revelação geral e a revelação especial.

As pessoas podem obter o conhecimento de que Deus existe e de alguns de seus atributos simplesmente por observar a si mesmas e ao mundo que as rodeia. Davi diz: “Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos” (Salmos 19.1). Olhar para o céu significa ver a evidência do infinito poder, sabedoria e mesmo beleza de Deus; significa observar o testemunho majestoso da glória de Deus.

Mesmo aqueles que, por sua impiedade, suprimem a verdade, não podem evitar as evidências da existência e da natureza de Deus na ordem da criação:

Pois o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis; porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e o coração insensato deles obscureceu-se: "Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis " (Romanos 1.19-21).

Aqui Paulo não diz somente que a criação dá evidência da existência e do caráter de Deus, mas também que mesmo os ímpios reconhecem essa evidência. O que pode ser conhecido a respeito de Deus “é manifesto entre eles”, e realmente eles conheceram Deus, mas “não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças”. Essa passagem nos permite dizer que todas as pessoas, mesmo as mais ímpias, possuem algum conhecimento interno ou percepção de que Deus existe e que ele é o Criador poderoso. Esse conhecimento é visto “por meio das coisas criadas”, expressão que se refere a toda a criação, incluindo a raça humana.

Paulo continua a mostrar em Romanos 1 que mesmo os descrentes que não possuem nenhum registro escrito das leis de Deus ainda têm em suas consciências algum entendimento das exigências morais de Deus. Falando de uma longa lista de pecados (“inveja, homicídio, rivalidades, engano...”), Paulo diz dos ímpios que os praticam: “Embora conheçam o justo decreto de Deus, de que as pessoas que praticam tais coisas merecem a morte, não somente continuam a praticá-las, mas também aprovam aqueles que as praticam” (Romanos 1.32). Os ímpios sabem que seus pecados são errados, ao menos em grande medida.

Paulo fala então a respeito da atividade da consciência nos gentios que não possuem a lei escrita: “De fato, quando os gentios, que não têm a Lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a Lei; pois mostram que as exigências da Lei estão gravadas em seu coração. Disso dão testemunho também a sua consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os” (Romanos 2.14,15).

A consciência dos descrentes testemunha dos padrões morais de Deus, mas às vezes essa evidência da lei de Deus no coração deles é distorcida ou suprimida. Às vezes seus pensamentos os acusam e às vezes seus pensamentos os defendem, diz Paulo. O conhecimento das leis de Deus derivado de tais fontes nunca é perfeito, mas é suficiente para criar a consciência das exigências morais de Deus para toda a raça humana. E é com base nisso que Paulo argumenta que toda a humanidade é considerada culpada diante de Deus pelo pecado, mesmo os que não possuem as leis escritas de Deus na Escritura.

O conhecimento da existência, do caráter e da lei moral de Deus, que vem por meio da criação para toda a humanidade, é muitas vezes chamado “revelação geral” (porque ela vem a todas as pessoas). A revelação geral vem por meio da observação da natureza, por meio da percepção da influência direta de Deus na história e por meio do senso interior da existência de Deus e de suas leis que ele colocou dentro de cada pessoa. A revelação geral é distinta da revelação especial, que se refere às palavras de Deus dirigidas a pessoas específicas, como as palavras que estão na Bíblia, as palavras dos profetas do Antigo Testamento e dos apóstolos do Novo Testamento, e as palavras de Deus faladas diretamente, como aquelas ditas no monte Sinai e no batismo de Jesus.

O fato de que todas as pessoas conhecem alguma coisa das leis morais de Deus é uma grande bênção para a sociedade, pois sem elas não haveria restrição social à prática do mal que as pessoas cometeriam nem refreamento vindo de suas consciências. Porque há algum conhecimento comum do certo e do errado, os cristãos podem muitas vezes estabelecer grande consenso com os não-cristãos em matéria da lei civil, padrões de comunidade, ética básica de negócios e de atividade profissional, além de padrões de conduta aceitáveis na vida cotidiana. O conhecimento da existência e do caráter de Deus também proporciona uma base de informação que capacita o evangelho a fazer sentido para o coração e a mente do não-cristão; os descrentes sabem que Deus existe e que eles quebraram os seus padrões, de modo que as novas de que Cristo morreu para pagar por seus pecados deveriam soar verdadeiramente como boas novas para eles.

B) A revelação especial é necessária para a salvação.

Contudo, deve ser enfatizado que em nenhum lugar a Escritura indica que as pessoas podem conhecer o evangelho, ou o caminho da salvação, por meio da revelação geral. Elas podem saber que Deus existe, que ele as criou, que elas lhe devem obediência e que elas pecaram contra ele. Mas como a santidade e a justiça de Deus podem ser conciliadas com o seu desejo de perdoar pecados é um mistério que nunca foi resolvido por religião alguma à parte da Bíblia. Nem a Bíblia nos dá qualquer esperança de que tal mistério possa ser desvendado independentemente da revelação específica de Deus. É uma grande maravilha de nossa redenção que o próprio Deus tenha providenciado o caminho de salvação por enviar o próprio Filho, que é tanto Deus como homem, para ser o nosso representante e suportar a penalidade de nossos pecados, combinando dessa forma a justiça e o amor de Deus de modo infinitamente sábio e por meio de um ato maravilhosamente gracioso.

Esse fato, que parece lugar-comum aos ouvidos do cristão, não deveria perder o seu encanto para nós: ele nunca poderia ter sido concebido somente pelo homem independentemente da revelação verbal e especial de Deus.

C. A suficiência da Escritura.

Podemos definir a suficiência da Escritura da seguinte maneira: A suficiência da Escritura significa que a Escritura continha todas as palavras de Deus que ele pretendeu que seu povo tivesse em cada estágio da história redentora, e que agora ela contém tudo o que precisamos que Deus nos diga para nossa salvação, para confiarmos nele perfeitamente e para que lhe obedeçamos perfeitamente. Essa definição enfatiza o fato de que é na somente Escritura que devemos procurar as palavras de Deus para nós. Ela também nos lembra que Deus considera o que nos tem dito na Bíblia como suficiente para nós e que devemos nos regozijar na grande revelação que ele nos deu, ficando contentes com ela.

A explicação e o apoio bíblico significativos para essa doutrina são encontrados nas palavras de Paulo a Timóteo: “Porque desde criança você conhece as Sagradas Letras, que são capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus” (2 Timóteo 3.15).O contexto mostra que “as Sagradas Letras” aqui significam as palavras escritas na Escritura: "Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça" (2 Timóteo 3.16). Isso é a indicação de que as palavras de Deus que temos na Escritura são todas as palavras de Deus de que precisamos a fim de que sejamos salvos; essas palavras são capazes de nos tornar sábios “para a salvação”.

Outras passagens indicam que a Bíblia é suficiente para equipar-nos para viver a vida cristã. Em Salmos 119.1 afirma-se: “Como são felizes os que andam em caminhos irrepreensíveis, que vivem conforme a lei do SENHOR!”. Esse versículo mostra a equivalência entre ser irrepreensível e “viver conforme a lei do SENHoR”; os irrepreensíveis são os que andam na lei do Senhor. Aqui temos a indicação de que tudo o que Deus requer de nós está registrado na Palavra escrita. Simplesmente fazer tudo o que a Bíblia ordena é ser irrepreensível à vista de Deus. Mais tarde lemos que um jovem pode “manter pura a sua conduta”. Como? “Vivendo de acordo com a tua palavra” (Salmos 119.9). Paulo diz que Deus deu a Escritura a fim de que o homem de Deus fosse “plenamente preparado para toda boa obra” (2 Timóteom 3.17).

Fonte: Wayne Grudem, Teologia Sistemática. Estudos Bíblicos - Sola Scriptura.

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