Quando a religião reformada começou a difundir a luz do Evangelho por toda a Europa, o Papa Inocente III temeu em grande modo pela Igreja de Roma. Por isso, designou um número de inquisidores, ou pessoas que deviam inquirir, prender e castigar os hereges, tal como os papistas chamavam aos reformados.
Encabeçando estes inquisidores estava um certo Domingo, que tinha sido canonizado pelo Papa a fim de fazer sua autoridade tanto mais respeitável. Domingo e os vários inquisidores se estenderam pelos vários países católico-romanos tratando os protestantes com a maior dureza. Finalmente, o Papa, não encontrando a estes inquisidores itinerantes tão úteis como havia imaginado, resolveu estabelecer uns tribunais fixos e regulares da Inquisição. O primeiro destes tribunais regulares se estabeleceu na cidade de Toulouse, e Domingo foi nomeado primeiro inquisidor regular, assim como tinha sido primeiro inquisidor itinerante.
Depois se estabeleceram tribunais da Inquisição por vários países, mas foi a Inquisição Espanhola a que adquiriu maior poder, e foi a mais temida. Até os mesmos reis da Espanha, embora arbitrários em todos os outros aspectos, aprenderam a temer o poder dos senhores da Inquisição; e as horrendas crueldades que estes exerciam obrigaram a multidões, que diferiam em suas opiniões dos católico-romanos, a dissimular seus sentimentos.
Em 1244, se poder aumentou mais graças ao imperador Frederico II, que se declarou amigo e protetor de todos os inquisidores, e que publicou estes cruéis editos: 1) que todos os hereges que persistissem em sua obstinação fossem queimados; 2) que todos os hereges que se arrependessem fossem encarcerados de por vida.
Este zelo do imperador em favor dos inquisidores católico remissão surgiu por causa de uma história que se havia propagado por toda a Europa, de que tinha a intenção de renunciar ao cristianismo e fazer-se maometano; por isso, o imperador tentou, por meio de um fanatismo extremado, contradizer a patranha e mostrar mediante sua crueldade seus adesão ao papado.
Os oficiais da Inquisição são três inquisidores, ou juízes, um fiscal, dois secretários, um magistrado, um mensageiro, um receptor, um carcereiro, um agente de possessões confiscadas, vários assessores, conselheiros, carrascos, médicos, cirurgiões, porteiros, familiares e visitantes, que estão juramentados para guardar o segredo.
A principal acusação em contra dos que estão sujeitos a este tribunal é a heresia, que se compõe de tudo o que se fala, ou escreve, em contra dos artigos do credo ou das tradições da Igreja de Roma. A Inquisição, também, investiga a todos os acusados de serem mágicos, e dos que lêem a Bíblia na língua comum, o Talmude dos judeus ou o Corão dos maometanos.
Em todas as ocasiões os inquisidores levam a cabo seus processos com a mais cruel severidade, castigando os que o ofendem com uma crueldade sem comparação. Poucas vezes se mostrará misericórdia para um protestante, e um judeu que se converter ao cristianismo está longe de estar seguro.
Na Inquisição uma defesa vele bem pouco para um preso, porque uma mera suspeita é considerada como suficiente causa de condena, e quanto maior seja sua riqueza, tanto maior seu perigo. A parte mais importante das crueldades dos inquisidores se deve à sua rapacidade; destroem as vidas para possuírem as riquezas, e sob pretensão de zelo pela religião saqueiam as pessoas que odeiam.
A um preso da Inquisição nunca lhe é permitido ver o rosto de seu acusador, nem os das testemunhas em sua contra, senão que se tomam todos os métodos de ameaças e torturas para obrigá-lo a acusar-se a si mesmo, e por este meio, corroborar suas evidências. Se não assentir plenamente à jurisdição da Inquisição, se proclama vingança contra todos aqueles que a coloquem em dúvida, caso resistirem a alguém de seus oficiais; todos os que se opõem a eles sofrearão com uma certeza quase total por tal temeridade; a máxima da Inquisição é infundir terror e pavor aos que tem sob seu poder, para levá-los a obedecer. O berço nobre, a estirpe ou os empregos eminentes não constituem proteção frente a seus rigores; e os mais humildes oficiais da Inquisição podem fazer tremer os mais altos dignitários.
Quando a pessoa acusada é condenada, é ou duramente açoitada, violentamente torturada, enviada às galeras, ou condenada a morte; em todo caso lhe são confiscados os bens. Depois do juízo, se leva a cabo uma procissão que se dirige ao lugar da execução, cerimônia que se chama auto de fé.
O que se segue é um relato de um auto de fé executado em Madri no ano 1682...
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