sábado, 20 de março de 2010

Hudson Taylor - O que é Chamado Missionário


O fato de perecerem mais de um milhão de almas todos os meses na China era uma realidade para Hudson Taylor; com seu espírito indômito, ao chegar à In­glaterra, iniciou imediatamente a tarefa de preparar um hinário e a revisão do Novo Testamento para os novos con­vertidos que deixara na China. Usando ainda o traje de chinês, trabalhava tendo o mapa da China na parede e a Bíblia sempre aberta sobre a mesa. Depois de alimentar-se e fartar-se da Palavra de Deus, fitava o mapa, lembrando-se dos que não tinham tais riquezas. Todos os problemas ele os levava a Deus; não havia coisa alguma demasiado grande, nem tão insignificante, que a não deixasse com o Senhor em oração.

Em razão de suas atividades, estava tão sobrecarrega­do de correspondência e nos trabalhos dos cultos em prol da China, que após a sua chegada passaram-se mais de vinte dias antes de conseguir abraçar seus queridos pais em Bransley. Passava, às vezes, a manhã, outras vezes a tarde, em jejum e oração. O seguinte trecho que ele escreveu mostra como a sua alma continuou a arder nos seus discursos nas igrejas da Inglaterra, sobre a obra missionária...

"Havia a bordo, entre os companheiros de viagem, cer­to chinês que se chamava Pedro. Passara alguns anos na Inglaterra, mas, apesar de conhecer algo do Evangelho, não reconhecia coisa alguma do seu poder para salvar. Senti-me ligado a ele e esforcei-me em orar e falar para levá-lo a Cristo. Mas quando o navio se aproximava de Sung-Kiang e eu me preparava para ir a terra, pregar e distribuir trata­dos, ouvi o grito de um homem que caíra na água. Fui ao convés com os outros - Pedro tinha desaparecido.

"Imediatamente arriamos as velas, mas a correnteza da maré era tal que não tínhamos a certeza do lugar onde o homem caíra. Vi alguns pescadores próximos, que usavam uma rede varredoura. Angustiado clamei:

- Venham passar a rede aqui, pois um homem está morrendo afogado!- Veh bin, foi a resposta inesperada, isto é, 'Não é con­veniente'.

- Não falem se é ou não é conveniente. Venham depres­sa antes que o homem pereça.

- Estamos pescando.

- Eu sei! Mas venham imediatamente e pagarei bem.

- Quanto nos quer dar?

- Cinco dólares, mas não fiquem conversando. Salvem o homem sem demora!

- Cinco dólares não basta - responderam eles. Não o fa­remos por menos de trinta dólares.

- Mas não tenho tanto! - darei tudo que eu tenho.

- Quanto tem o senhor?

- Não sei - porém não é mais do que catorze dólares.

Então os pescadores vieram, passaram a rede no lugar indicado. Logo à primeira vez apanharam o corpo do ho­mem. Mas todos os meus esforços para restaurar-lhe a res­piração foram inúteis. Uma vida fora sacrificada pela indi­ferença dos que podiam salvá-la quase sem esforço.

Ao ouvirem contar esta história, uma onda de indigna­ção passou por todo o grande auditório. Haveria em todo o mundo um povo tão endurecido e interesseiro como esse! Mas ao continuar o seu discurso, a convicção feriu ainda mais o coração dos ouvintes.

- O corpo então tem mais valor que a alma? Censura­mos esses pescadores, dizendo que foram culpados da mor­te de Pedro, porque era coisa fácil salvá-lo. - Mas que acontece com os milhões que estamos deixando perecer para toda a eternidade? Que diremos acerca da ordem implícita: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura? Deus nos diz também: 'Livra os que estão des­tinados à morte, e os que são levados para a matança, se os puderes retirar. Se disseres: eis que não o sabemos; por­ventura aquele que pondera os corações não o considerará? e aquele que atenta a tua alma não o saberá? não pagará ele ao homem conforme a sua obra?

- Credes que cada pessoa entre esses milhões da Chi­na, tem uma alma imortal e que não há outro nome debai­xo do céu, dado entre os homens a não ser o precioso nome de Jesus, pelo qual devamos ser salvos? - Credes que Ele,Ele só, é o Caminho, a Verdade e a Vida e que ninguém vai ao Pai senão por Ele? Se assim o credes, examinai-vos a vós mesmos para ver se estais fazendo todo o possível para levar seu nome a todos.

Ninguém deve dizer que não é chamado para ir à Chi­na. Ao enfrentar tais fatos, todas as pessoas precisam sa­ber se têm uma chamada para ficarem em casa. Amigo, se não tens certeza de uma chamada para continuar onde es­tás, como podes desobedecer à clara ordem do Salvador, para ir? - Se estás certo, contudo, de estares no lugar onde Cristo quer, não por causa do conforto ou dos cuidados da vida, então estás tu orando como convém a favor dos mi­lhões de perdidos da China? Estás tu usando teus recursos para a salvação deles?"

"Certamente morrerás; não avisando tu, não falando para avisar o ímpio acerca do seu caminho ímpio, para salvar a sua vida. aquele ímpio morrerá na sua maldade, mas o seu sangue da tua mão o requererei".
(Ezequiel 3:18)

Extraído de Heróis da Fé, Orlando S. Boyer, Editora CPAD.

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